PREVISÕES PARA A INDÚSTRIA TÊXTIL EM 2021: NÃO DEVEMOS BAIXAR A GUARDA

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imagem de uma indústria têxtil

O setor têxtil e de confecções do Brasil, a quinta maior indústria têxtil do mundo, que vinha se recuperando de maneira quase constante desde a crise de 2008-2009, foi duramente impactado pela crise do coronavírus. A primeira onda passou, a pandemia acalmou e o ano virou. E agora, o que esperar de 2021? A vontade é de virar a página e acreditar que esse novo ano será diferente.

A ABIT (Associação Brasileira da Indústria Têxtil) revelou no último dia 17 de dezembro as suas previsões para o faturamento do setor em 2021. Essas previsões são coerentes com aquelas que já foram emitidas pela associação em agosto de 2020 e apontam para uma recuperação ao longo de 2021: a retomada tão esperada.

Mas ao mesmo tempo a ABIT, juntamente com outros órgãos como a CNI (Confederação Nacional da Indústria), alerta: esta retomada está intrinsecamente ligada à evolução da pandemia.

E aí está o nosso problema. Os eventos mais recentes indicam que a pandemia está retomando força, e alguns estados já voltaram a impor medidas mais restritivas para conter o avanço dessa segunda onda da Covid-19. Parece que ainda não teremos o descanso tão merecido e que 2021 será mais um ano de luta. Uma coisa é certa, não é o momento de baixar a guarda. A indústria têxtil brasileira apanha mas não desiste nunca!

PREVISÕES DA ABIT PARA 2021

Segundo os dados divulgados pela ABIT em dezembro passado, 2021 será o ano da volta ao crescimento positivo que deverá permitir ao setor recuperar toda a perda provocada pela pandemia. Falando em números, os valores representam crescimentos de 8,5% e 23% na comparação com 2020, ou seja 2,09 milhões de toneladas e 5,81 bilhões de peças.

Esses números encorajadores devem ser colocados em perspectiva com a evolução do setor nos últimos anos. O que as estimativas da ABIT dizem é que o setor deverá voltar para um patamar próximo do faturamento e produção de 2019: um passo para trás, um passo para a frente.

Manufaturas Têxteis
Produção de Vestuário
Varejo de Vestuário

FIM DO AUXÍLIO EMERGENCIAL

Muitas pessoas ainda têm em mente a retomada dinâmica do segundo semestre de 2020, após a flexibilização do confinamento, quando o setor têxtil e de confecções apresentou números de faturamento surpreendentemente altos. Esses números só não foram maiores por culpa da escassez de insumos que impactou toda a cadeia no final do ano passado. Fernando Pimentel, o presidente da ABIT, estimou que, se tudo estivesse normal, as indústrias têxteis poderiam ter faturado entre 10% a 15% a mais.

Mas é ilusório pensar que esse cenário poderia se perpetuar agora, no início de 2021. A principal razão é que no segundo semestre de 2020, o governo lançou o auxílio emergencial. Esse auxílio injetou muito dinheiro na economia do país e ajudou assim a manter o mercado “artificialmente” aquecido.

Fernando Pimentel disse recentemente em entrevista à CNN: “Esse auxílio foi tão forte que tínhamos um saldo positivo de 108 bilhões de reais de rendimento que foram colocados na economia, já deduzindo as perdas decorrentes da redução de salário ou perda de emprego.”

Até agora não há sinal nem razão para acreditar que esse auxílio será renovado em 2021. Isso quer dizer que iniciamos o ano com o poder aquisitivo do consumidor muito mais abalado. Segundo Pimentel: “O mercado tende, infelizmente, mais a frente, a se estabilizar em outro patamar, talvez um patamar mais baixo que aquele patamar que passamos a conviver depois que foram flexibilizadas as condições de funcionamento, quando por conta do auxílio emergencial, a demanda foi muito forte.”

Renato da Fonseca, gerente executivo da Economia da CNI, na mesma entrevista à CNN, falou que acreditava que a geração de emprego iria compensar parcialmente essa perda de recursos. Já a ABIT ponderou esse otimismo com as suas estimativas: teria que criar empregos na faixa de 10 ou 12 milhões para compensar a saída do auxílio emergencial (em todos os setores). Isso dificilmente acontecerá. As projeções publicadas no último dia 17 de dezembro previam um saldo positivo de contratações de 25.000 vagas para o setor têxtil e de confecções, o segundo maior empregador da indústria de transformação. Lembrando novamente que essas previsões dependem da evolução da pandemia e que os recentes eventos não são a favor de tal cenário.

Um dado interessante, e não tão encorajador, é que mesmo com a pandemia, as vendas online representam apenas 4% das vendas totais. Fernando Pimentel frisa que “mesmo que dobrem, não compensam a baixa provocada pelas medidas restritivas… que  já estamos voltando a ter em algumas cidades”.

A PANDEMIA EM 2021

Isso quer dizer que os resultados do setor em 2021 vão depender diretamente da evolução da pandemia, e sobretudo, das medidas restritivas impostas pelo governo federal, os governadores ou os municípios.

E nesse quesito o horizonte não está tão bonito. A enquete interna da ABIT com os seus associados mostrou que a porcentagem de otimistas já passou de 73% para 67% com a recrudescência dos casos de Covid.

A aparição de novas variantes do vírus no Brasil e a forte politização da pandemia não irão ajudar. Muitos políticos que têm se colocado ao lado da ciência, em oposição à postura do presidente Jair Bolsonaro, não terão outra escolha a não ser aplicar medidas mais firmes para garantir a coerência dos seus discursos.

Também devemos ter em mente o risco de se repetir o cenário do segundo semestre de 2020, quando faltaram muitos insumos na indústria brasileira, e particularmente no setor têxtil. Essa escassez se deveu principalmente à volta brusca da demanda, todas as empresas da cadeia têxtil estando com estoques baixos. O aumento progressivo da produção não acompanhou a necessidade da indústria, mas a maior parte das empresas encontraram maneiras de contornar essa falta. Renato da Fonseca alertou: “A retomada dos casos no Brasil afeta as expectativas e a confiança do empresário e do próprio consumidor, achando que vai fechar novamente como ocorreu em março/abril de 2020. Se ocorrer novamente, a gente volta em uma situação onde para tudo. E a reabertura implica de novo aquela dificuldade de atender a demanda, porque as empresas vão voltar a reduzir os seus estoques, desligar os equipamentos…”

Para completar essa visão extremamente pessimista de 2021 (pedimos desculpa aos nossos leitores!), a variação cambial não é favorável e provoca o aumento de preços de insumos importados mas não somente… também aumenta o preço de insumos para os quais já somos autossuficientes! O algodão em pluma é um excelente exemplo: não há falta no Brasil, mas pelo fato de ser uma commodity, acaba sendo cotado com o dólar que vem oscilando em patamares altíssimos. E alguns bancos, como o Société Générale, já estão orientando os seus investidores a comprar reais, pois estão apostando forte numa alta no decorrer de 2021.

ESPERANÇAS NA REFORMA E NAS VACINAS

Para contrabalançar todos esses fatores, só resta torcer para que o resto ande bem: que a relação entre a Câmara e o governo normalize facilitando as reformas necessárias ao bom andamento da economia interna. Também devemos esperar que a vacina seja um sucesso e o plano de vacinação bem realizado. É a nossa maior esperança para que a pandemia enfraqueça nos próximos meses.

Ainda em agosto de 2020, o presidente da ABIT dizia: “Também são relevantes o andamento das reformas estruturais, como a tributária e administrativa, e a aprovação da nova Lei do Gás visando a redução do custo sistêmico da produção no Brasil.”

Há três dias, o presidente Bolsonaro e o Ministro Guedes tentaram convencer novamente que a reforma tributária seria feita esse ano. Quanto à nova Lei do Gás, que promete o fim da concessão, o acesso às estruturas para empresas terceiras e o fim do monopólio da Petrobras,  ela foi aprovada pelo Senado com modificações e já voltou para a Câmara para validação dos deputados.

Então é isso! Vamos torcer todos juntos para que as coisas saiam do melhor jeito possível para nós e o Brasil. Mas não vamos abaixar a cabeça. 2020 não foi um ano ruim para todos: alguns souberam se adaptar e produzir material hospitalar e máscaras. Outros apostaram em tecidos com proteção antiviral.

O mais importante é você se informar, conversar com os seus colegas, com o seu time, os seus pares e estar sempre à frente das mudanças. A reatividade e uma boa comunidade ao seu redor: essas são as chaves do sucesso em 2021!

Fontes:

  • GBL JEANS – Indústria espera retomada em 2021
  • ABIT – Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção
  • Podcast “E Tem Mais” da CNN – A falta de insumos na indústria e as repercussões para o consumidor.
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