Entendendo a cultura de inovação e automatização da indústria têxtil estadunidense

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A indústria têxtil brasileira tem grande destaque internacional, sendo o quinto maior produtor e representando 2,4% de toda a produção têxtil mundial. Por esse e outros motivos, o Brasil acabou se tornando a casa de diversas multinacionais do ramo e empresas originalmente brasileiras também recebem notoriedade a nível mundial. Os Estados Unidos, por sua vez, está na terceira posição no ranking e contribui com 5,3% da produção têxtil mundial. No entanto, comparar quantidade é uma visão muito superficial do que a “indústria têxtil” significa em cada país, por isso trago neste artigo uma abordagem cultural que influencia na forma em que o setor é moldado aqui nos Estados Unidos.

Podemos começar pela mão de obra. É comum andar pelas ruas aqui e ver placas de “contratando”. A mão de obra não apenas é cara, como também é extremamente escassa. Se a mão de obra especializada para o setor têxtil já é difícil no Brasil, imagina em um país onde a discrepância salarial é reduzida e sempre há trabalho disponível em um lugar próximo ou que você se identifica. E como isso afeta a cadeia têxtil? Com a falta de mão de obra, as empresas têm duas opções, importar produtos ou automatizar seus processos. Somando-se a isso, os Estados Unidos é o país que mais investe em pesquisa e desenvolvimento no mundo (mais de USD 600 bilhões em 2019). Essa analogia nos traz ao meu ponto principal, mostrar alguns exemplos do que se estuda – e se aplica – aqui.

Um grande aliado das empresas para reduzir custos e mão de obra são os softwares Computer Aided Design (CAD)  e Computer Aided Manufacturing (CAM), isso porque eles possibilitam a visualização do produto ou processo antes destes ocorrerem, diminuindo tempo de protótipos e reduzindo erros. No contexto explicado anteriormente, também significa que podem-se desenvolver produtos localmente e produzir em outros lugares do mundo já tendo uma visão muito precisa de como serão os protótipos/amostra. 

Como exemplo vou listar 3 softwares que tive contato no tempo que estou aqui:

É um software voltado para simulação de peças que passarão pelos processos de corte e costura. Inicia-se na criação dos moldes da peça em 2D e depois simplesmente utiliza-se uma ferramenta de costura para instruir o software a montar a peça em 3D. Seria comparável com o software Clo 3D que também tem grande aceitação no mercado. Em ambos o usuário tem opções para escolher desde o tecido com certas composições e propriedades físicas, até adicionar acessórios, como zíperes, laços, alças, botões, etc. O manequim também pode ser ajustado para medidas específicas, normalmente combinado com um scanner de corpo, possibilitando um artigo totalmente customizado. Com a simulação é possível observar o caimento da peça conforme o tecido escolhido e analisar gráficos de tensão por todo o corpo, sendo fácil avaliar partes apertadas ou soltas.

Possibilita a demonstração de materiais e texturas complexas. Para fácil visualização por desenvolvedores e clientes, a cabine permite rotacionar o objeto e escolher entre diferentes luzes, trazendo cores realistas e precisas. Os objetos a serem demonstrados podem ser protótipos virtuais ou no caso de tecidos, por exemplo, escaneados e aplicados à peça escolhida. Tecidos como “spacer” ou colméia também tem a profundidade e detalhes capturados.

Esse software é específico para máquinas retilíneas e permite a simulação de todo o processo de tricotagem. Dependendo da máquina que será utilizada, é possível produzir Wholegarments, que são peças tecidas completas no tear. Nesse software é possível simular diversos tipos e combinações de pontos, utilizando as estruturas básicas de malha. A principal vantagem é poder criar estruturas audaciosas que podem ser simuladas e corrigidas antes de serem enviadas para a máquina. O simulador não apenas permite a visualização realista do produto final, mas simula o tear trabalhando e todas as agulhas individualmente, do começo ao fim da peça. Outra possibilidade desse software é escolher o fio em uma biblioteca da empresa Shima Seiki, que possui fornecedores mundiais e inclusive preços ou escanear o fio em um dispositivo da pantone que se conecta ao software. A simulação exibe detalhes de pilosidade, fios especiais (chenille, slub, etc) e cores. Além de poder editar os pontos e estrutura da malha, o jacquard também permite editar e utilizar diversas cores e importar ou desenhar imagens.

Engenheira têxtil, atualmente cursando Mestrado em Gerenciamento e tecnologia têxtil na Carolina do Norte (EUA), Ana busca conhecimento teórico para aplicar na prática. Com experiência em engenharia de processos, desenvolvimento de produto, assistência técnica e procedimentos laboratoriais em fiações sintéticas, acumulou conhecimento desde o início da cadeia têxtil até peças finais. A busca por conhecimento levou Ana aos Estados Unidos, onde hoje foca em aprender e melhorar os mais modernos softwares de desenvolvimento de produto têxtil. 

Ana também é co-fundadora do @tudosobretextil. Durante seu período na indústria percebeu que produtos têxteis muitas vezes são vistos como uma ciência incerta e imprevisível. Por isso, hoje compartilha conhecimento técnico através da página, focando em disseminar o conhecimento da ciência têxtil no Brasil.